-24-

ryada de insectos repugnantes n'essa verdura que tanto admiras. Dize-me uma coisa, Mauricio, parece-te que o nosso velho solar prejudica a belleza d'esta paisagem?

- Se prejudica? Ora essa! Adorna-a. Olha que bem que elle sahe d'aquelle fundo que lhe fazem os castanheiros!

- Muito bem, e comtudo, visto de perto, ha lá tristes e prosaicas realidades - observou Jorge, suspirando.

Ao olhar de estranheza, com que, ao ouvir-lhe estas palavras, o irmão o fitou, Jorge correspondeu, dizendo:

- Sim, Mauricio, triste e prosaica realidade para quem o olhar de perto. Ha nada mais triste do que aquelles campos invadidos pelas ortigas, que nós lá temos, do que aquelles pomares mal tractados, e aquelles celleiros em ruinas? Quererás encontrar poesia na nossa pobreza, Mauricio?

- Pobreza?!

- Pobreza, sim; pois que nome lhe queres dar? Olha, compara o aspecto d'essa casa branca de um andar, que ahi fica em baixo, com o do nosso paço acastellado, a actividade d'aquelles homens com a somnolencia chronica do nosso capellão; compara ainda, Mauricio, compara a desafogada alegria de Thomé com a tristeza sem conforto do nosso pae.

Mauricio curvou a cabeça, e uma como sombra de tristeza parou-lhe algum tempo na fronte, habitualmente desanuviada. Dir-se-ia que pela primeira vez o vulto descarnado da realidade se lhe apresentava aos olhos, até então fascinados pelo fulgor de lisongeiras illusões.

Mas, depois de breves instantes de silencio, respondeu ao irmão:

- Pois bem, será como dizes. Creio até que seja essa a verdade. A riqueza está alli, a pobreza do nosso lado; porém a poesia... oh! essa deixa-nol-a ficar, que bem sabes que não é ella a habitual companheira da opulencia.

- Da opulencia ociosa, egoista e inutil, de certo que não; mas da opulencia activa, benefica, que semeia, que transmitte a vida em volta de si, da opulencia que fomenta o trabalho, que cultiva os terrenos maninhos, que fertilisa a terra esteril, que sustenta, que educa e civi-