D. Luiz parou e respondeu friamente:
— Os negocios da minha casa tractam-se com o meu procurador. Eu não posso...
— Deixemo-nos d'isso, fidalgo. Eu nada tenho, nem quero ter com o procurador de v. exc.ª. Não foi elle quem me offendeu; não é a elle que devo dirigir-me.
— Ah! então vem aqui pedir-me satisfações?!
— Venho, sim, senhor.
— Tem graça! — observou o fidalgo, com um sorriso cheio de aristocratico sarcasmo.
— Então v. exc.ª acha que um homem que é insultado, não tem o direito de vir perguntar á pessoa que o insultou a razão por que o fez?
— E suppõe que eu já alguma vez me occupei a insultal-o?
— Supponho, sim, senhor; e supponho mais, supponho que v. exc.ª bem sabe quando e de que maneira me insultou. Porque era preciso não ter brios para imaginar que um homem de bem não se offenderia com acções, como as de v. exc.ª para commigo.
— Ora essa! commentou D. Luiz, voltando-lhe as costas e caminhando desdenhosamente para a janella.
Thomé da Povoa, a quem este movimento augmentou a excitação de que já estava possuido, deu alguns passos mais agitados para o seu orgulhoso interlocutor.
O fidalgo, sentindo-o, voltou-se subitamente e encarou-o fixo.
— Vem aqui decidido a alguma violencia, ao que parece.
A irritação de Thomé desvaneceu-se. O olhar de D. Luiz parecia avivar-lhe memorias do tempo, em que elle se costumára a obedecer-lhe e a temêl-o quasi.
A reflexão venceu esta timidez de instincto, comtudo foi menos aggressivo do que até ahi que elle respondeu:
— Não, snr. D. Luiz; venho aqui decidido a explicar-me. É preciso que fiquemos ambos sabendo o que um e outro somos. Não posso por mais tempo soffrer calado os desprezes e as desfeitas de v. exc.ª, sem perguntar qual o motivo que dei para ellas. Palavra de hon-