—Ó snr. Jorge! A maior paga que me póde dar é… não me pagar nunca.
Movidos por esta scena, os outros criados vieram depositar na mesa outra vez o dinheiro recebido.
—Lá por isso… nós tambem esperamos…
Jorge restituiu-lhes o dinheiro.
—Não é necessario… Levem-n'o.
E depois acrescentou:
—As circumstancias actuaes da nossa casa obrigam-nos a fazer mudanças no serviço. Temos de reduzir o numero dos criados de dentro e augmentar os de lavoura. Por isso, vossês quatro, Francisco, Lourenço, Pedro e Romão, podem procurar outra casa. Para nos servir bastam os outros dois. Vossês, os de lavoura, ficam, se quizerem, e se tiverem parentes que pretendam empregar-se aqui no mesmo serviço, mandem-nos ter commigo. E agora podem ir.
O tom em que foram ditas estas palavras excluia qualquer observação. Sahiram todos. —Frei Januario—acrescentou Jorge, dirigindo-se ao padre, que estava meio aparvalhado—podia fazer-me saber mais delicadamente esta divida de casa. Apesar d'isso agradeço-lhe o ensejo que me deu de a pagar!
O padre resmungou não sei o quê, e sahiu cada vez com mais medo de Jorge. —Onde foi o diabo buscar já tanto dinheiro?—pensava elle.—Não póde deixar de ser da maçonaria.
O hortelão ficou só com Jorge.
O pobre homem estava enthusiasmado com a honrosa distincção que recebêra, e para manifestar o seu enthusiasmo passou a contar a Jorge como é que se tinha dado o ataque do monte das Antas.
Esta scena, divulgada em pouco tempo, concorreu, como dissemos, para augmentar os creditos de Jorge em toda a aldeia.