10 de Dezembro de 1891

Em Setúbal é, como naturalmente sabem, uma cidade pequena, na margem do Sado, vivendo magramente de banhistas e fábricas de sardinha. Tem quatro velhas paróquias, de roda de cujas igrejas se enroscam vielas nauseabundas, dois conventos ou três, sem maior importância arqueológica – exceção feita ao de Jesus, de que falarei depois com mais vagar – e como obras modernas, uma extensa avenida marginal sem terraplenos de cais ocultando a imundície da praia coberta de dejetos, alguns desmazelados jardins impasseáveis, e uma estátua a Bocage, vestida de criado d'ópera, defronte dum portal gótico e ao pé dum chafariz seco. Na varruscadela à pressa das ruas, na brunidura módica de certas casitas novas, na ornamentação dos passeios e alamedas suburbanas, uma pelintrice salta, de cidade que se acapitala, sem estipêndios fixos, particulares ou municipais, e a quem a necessidade da clientela banhista impõe, no verão, despesas, cujos frutos a penúria do inverno inutiliza.