OS MAIAS
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jardinete inglez; e a porta do casarão encantava-o, ogival e nobre, resto de fachada d’ermida, fazendo um accesso veneravel para o seu sanctuario de sciencia. Mas dentro os trabalhos arrastavam-se sem fim; sempre um vago martellar preguiçoso n’uma poeira alvadia; sempre as mesmas coifas de ferramentas jazendo nas mesmas camadas de aparas! Um carpinteiro esgouroviado e triste parecia estar alli, desde seculos, aplainando uma taboa eterna com uma fadiga langorosa; e no telhado os trabalhadores que andavam alargando a claraboia, não cessavam de assobiar, no sol d’inverno, alguma lamuria de fado.

Carlos queixava-se ao sr. Vicente, o mestre d’obras, que lhe asseverava invariavelmente «como d’ahi a dois dias havia de s. ex.ª vêr a differença.» Era um homem de meia edade, risonho, de fallar doce, muito barbeado, muito lavado, que morava ao pé do Ramalhete, e tinha no bairro fama de republicano. Carlos, por sympathia, como visinho, apertava-lhe sempre a mão: e o sr. Vicente, considerando-o por isso um «avançado», um democrata, confiava-lhe as suas esperanças. O que elle desejava primeiro que tudo era um 93, como em França...

— ­O que, sangue? dizia Carlos, olhando a fresca, honrada, e roliça face do demagogo.

— ­Não, senhor, um navio, um simples navio...

— ­Um navio?

— ­Sim, senhor, um navio fretado á custa da nação, em que se mandasse pela barra fóra o rei, a familia