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OS MAIAS

um calice de Chartreuse, accendia á pressa um charuto:

— ­Ao trabalho, ao trabalho! exclamava.

E o avô, enchendo de vagar o seu cachimbo, invejava-lhe aquella occupação, emquanto elle ficava alli a vadiar toda a manhã...

— ­Quando esse eterno laboratorio estiver acabado, talvez vá para lá passar um bocado, occupar-me de chimica.

— ­E ser talvez um grande chimico. O avô tem já a feitio.

O velho sorria.

— ­Esta carcassa já não dá nada, filho. Está pedindo eternidade!

— ­Quer alguma cousa da Baixa, de Babylonia? perguntava Carlos, abotoando á pressa as suas luvas de governar.

— ­Bom dia de trabalho.

— ­Pouco provavel...

E no dog-cart, com aquella linda egoa, a Tunante, ou no phaeton com que maravilhava Lisboa, Carlos lá partia em grande estylo para a Baixa, para «o trabalho.»

O seu gabinete, no consultorio, dormia n’uma paz tepida entre os espessos velludos escuros, na penumbra que faziam as stores de seda verde corridas. Na sala, porém, as tres janellas abertas bebiam á farta a luz; tudo alli parecia festivo; as poltronas em torno da jardineira estendiam os seus braços, amaveis e convidativas; o teclado branco do piano ria e esperava,