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OS MAIAS

— ­O ministro não deixa de ter razão, observou Villaça. Isto ás vezes, em duellos, póde bem succeder uma desgraça...

Houve um curto silencio. Carlos, que caía de somno, perguntou ao Taveira, atravez d’outro bocejo, se vira o Ega no theatro.

— ­Podera! La estava de serviço, no seu posto, na frisa dos Cohens, todo puxado...

— ­Então essa cousa do Ega com a mulher do Cohen, disse o marquez, parece clara...

— ­Transparente, diaphana! um crystal!...

Carlos, que se erguera a accender uma cigarette para despertar, lembrou logo a grande maxima de D. Diogo: essas cousas nunca se sabiam, e era preferivel não se saberem! Mas o marquez, a isto, lançou-se em considerações pesadas. Estimava que o Ega se atirasse; e via ahi um facto de represalia social, por o Cohen ser judeu e banqueiro. Em geral não gostava de judeus; mas nada lhe offendia tanto o gosto e a razão como a especie banqueiro. Comprehendia o salteador de clavina, n’um pinheiral; admittia o communista, arriscando a pelle sobre uma barricada. Mas os argentarios, os Fulanos e C.as faziam-n’o encavacar... E achava que destruir-lhes a paz domestica era acto meritorio!

— ­Duas horas e um quarto! exclamou Taveira, que olhara o relogio. E eu aqui, empregado publico, tendo deveres para com o Estado, logo ás dez horas da manhã.

— ­Que diabo se faz no tribunal de contas? perguntou Carlos. Joga-se? Cavaquea-se?