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OS MAIAS

não tinha nada de cavalheiro: dera um fato de cheviot claro ao Romão (ao Pimenta), mas tão coçado e tão cheio de riscas de tinta, de limpar a penna á perna e ao hombro, que o Pimenta deitou o presente fóra. O conde e a senhora não se davam bem: já no tempo do Pimenta, uma occasião, á mesa, tinham-se pegado de tal modo que ella agarrou do copo e do prato, e esmigalhou-os no chão. E outra qualquer teria feito o mesmo; por que o sr. conde, quando começava a repisar, a remoer, não se podia aturar. As questões eram sempre por causa de dinheiro. O Tompson velho estava farto de abrir os cordões á bolsa...

— ­Quem é esse Tompson velho, que nos apparece agora, a esta hora da noite? perguntou Carlos, a seu pesar interessado.

— ­O Tompson velho é o pae da sr.ª condessa. A sr.ª condessa era uma miss Tompson, dos Tompson do Porto. O sr. Tompson não tem querido ultimamente emprestar nem mais um real ao genro: de sorte que, uma vez, já no tempo do Pimenta tambem, o sr. conde, furioso, disse á senhora que ella e o pae se deviam lembrar que eram gente de commercio e que fora elle que fizera d’ella uma condessa; e com perdão de v. ex.ª, a senhora condessa ali mesmo á mesa mandou o condado á tabúa... Estas cousas não estão no genero do Pimenta.

Carlos bebeu um gole de grog. Bailava-lhe nos labios uma pergunta, mas hesitava. Depois reflectiu na puerilidade de tão rigidos escrupulos, a respeito d’uma