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OS MAIAS

Carlos ergueu-se de novo na paz dormente do quarto:

— ­Madame Rughel era muito bonita, não é verdade, Baptista? É a mulher mais bonita que tu tens visto na tua vida!

O velho creado metteu o livro no bolso da casaca, e respondeu, sem hesitar, muito certo de si:

— ­Madame Rughel era uma senhora de muita vista. Mas a mulher mais linda em que tenho posto os olhos, se o menino dá licença, era aquella senhora do coronel de hussards que vinha ao quarto do hotel em Vienna.

Carlos atirou a cigarette para a salva — ­e escorregando pela roupa abaixo, todo invadido por uma onda de recordações alegres, exclamou da profundidade do seu conforto, no antigo tom de emphase bohemia dos Paços de Cellas.

— ­O sr. Baptista não tem gosto nenhum! Madame Rughel era uma nympha de Rubens, senhor! Madame Rughel tinha o explendor d’uma deusa da Renascença, senhor! Madame Rughel devia ter dormido no leito imperial de Carlos Quinto... — ­Retire-se, senhor!

Baptista entalou mais o couvre-pieds, relanceou pelo quarto um olhar solicito, e, contente, da ordem em que as cousas adormeciam, saíu, levando o candieiro. Carlos não dormia: e não pensava na coronela de hussards, nem em madame Rughel. A figura que no escuro dos cortinados lhe apparecia, n’um vago dourado que provinha do reflexo de seus cabellos soltos,