OS MAIAS
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E Ega, divertido, cantarolou:

Je suis Mephisto...
Je suis Mephisto...

Carlos no entanto, fumando preguiçosamente, continuava a fallar na Gouvarinho e n’essa brusca saciedade que o invadira, mal trocara com ella tres palavras n’uma sala. E não era a primeira vez que tinha d’estes falsos arranques de desejo, vindo quasi com as formas do amor, ameaçando absorver, pelo menos por algum tempo, todo o seu ser, e resolvendo-se em tedio, em «secca». Eram como os fogachos de polvora sobre uma pedra; uma fagulha atêa-os, n’um momento tornam-se chamma vehemente que parece que vae consumir o Universo, e por fim fazem apenas um rastro negro que suja a pedra. Seria o seu um d’esses corações de fraco, molles e flaccidos, que não podem conservar um sentimento, o deixam fugir, escoar-se pelas malhas lassas do tecido relles?

— ­Sou um ressequido! disse elle sorrindo. Sou um impotente de sentimento, como Satanaz... Segundo os padres da Egreja, a grande tortura de Satanaz é que não póde amar...

— ­Que phrases essas, menino! murmurou Ega.

Como phrases? Era uma atroz realidade! Passava a vida a ver as paixões falharem-lhe nas mãos como phosphoros. Por exemplo, com a coronela de hussards em Vienna! Quando ella faltou ao primeiro rendez-vous, chorara lagrimas como punhos, com a cabeça enterrada no travesseiro e aos coices á roupa. E d’ahi