OS MAIAS
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— ­Creia v. ex.ª... Eu não sou de sabujices... Mas pode v. ex.ª perguntar ao Ega, quantas vezes o tenho dito: v. ex.ª é a cousa melhor que ha em Lisboa!

Carlos, baixava a cabeça, mordendo o riso. Damaso, repetia, do fundo do peito.

— ­Olhe que isto é sincero, sr. Maia! Acredite v. ex.ª que isto é do coração!

Era realmente sincero. Desde que Carlos habitava Lisboa, tivera alli, n’aquelle moço gordo e bochechudo, sem o saber, uma adoração muda e profunda; o proprio verniz dos seus sapatos, a côr das suas luvas eram para o Damaso motivo de veneração, e tão importantes como principios. Considerava Carlos um typo supremo de chic, do seu querido chic, um Brummel, um d’Orsay, um Morny, — ­uma «d’estas cousas que só se vêem lá fóra», como elle dizia arregalando os olhos. N’essa tarde sabendo que vinha jantar com o Maia, conhecer o Maia, estivera duas horas ao espelho experimentando gravatas, perfumara-se como para os braços d’uma mulher; — ­e por causa de Carlos mandara estacionar alli o coupé, ás dez horas, com o cocheiro de ramo ao peito.

— ­Então essa senhora brazileira vive aqui? perguntou Carlos, que dera dous passos, olhava uma janella allumiada no segundo andar.

Damaso seguiu-lhe o olhar.

— ­Vive lá do outro lado. Estão aqui ha quinze dias... Gente chic... E ella é de appetecer, v. ex.ª reparou? Eu a bordo atirei-me... E ella dava cavaco! Mas tenho andado muito preso desde que cheguei,