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OS MAIAS

secretos em que se debatia, n’aquelle mundo dos Cohens, o seu temperamento de artista. Carlos enterneceu-se.

— ­Meu pobre Ega, então toda a demanda?

— ­Toda! E a leitura do relatorio da assembléa geral! E interessei-me! E tive opiniões!... A vida é um inferno.

Subiram ao terraço. Damaso reoccupara a sua cadeira de vime, e, com um canivetesinho de madreperola, estava tratando das unhas.

— ­Então decidiu-se? perguntou elle logo ao Ega.

— ­Decidiu-se hontem! Não ha cotillon.

Tratava-se de uma grande soirée mascarada que íam dar os Cohens, no dia dos annos de Rachel. A idéa d’esta festa sugerira-a o Ega, ao principio com grandes proporções de gala artistica, a ressurreição historica de um sarau no tempo de D. Manuel. Depois viu-se que uma tal festa era irrealisavel em Lisboa — ­e desceu-se a um plano mais sobrio, um simples baile costumé, a capricho...

— ­Tu, Carlos, já decidiste como vaes?

— ­De dominó, um severo dominó preto, como convém a um homem de sciencia...

— ­Então, exclamou Ega se se trata de sciencia, vae de rabona e chinellas de ourello!... A sciencia faz-se em casa e de chinellas... Nunca ninguem descobriu uma lei do Universo mettido dentro de um dominó... Que sensaboria, um dominó!...

Justamente a sr.ª D. Rachel desejava evitar, no seu baile, essa monotonia dos dominós. E em Carlos não