uma bonita senhora estrangeira que recolhia ao seu hotel.
Voltou ainda tres vezes ao Aterro, não a tornou a vêr; e então envergonhou-se, sentiu-se humilhado com este interesse romanesco que o trazia assim, n’uma inquietação de rafeiro perdido, farejando o Aterro, da rampa de Santos ao caes de Sodré, á espera de uns olhos negros e de uns cabellos louros de passagem em Lisboa, e que um paquete da Royal Mail levaria uma d’essas manhãs...
E pensar que toda essa semana deixara o seu trabalho abandonado sobre a meza! E que todas as tardes, antes de sahir, se demorava ao espelho, estudando a gravata! Ah, miseravel, miseravel natureza...
Ao fim d’essa semana, Carlos estava no consultorio, já para sahir, calçando as luvas, quando o creado entreabriu o reposteiro, e murmurou com alvoroço:
— Uma senhora!
Appareceu um menino muito pallido, de caracoes louros, vestido de velludo preto — e atraz uma mulher, toda de negro, com um véo justo e espesso como uma mascara.
— Creio que vim tarde, disse ella, hesitando, junto da porta. O sr. Carlos da Maia ía sahir...
Carlos reconheceu a Gouvarinho.
— Oh senhora condessa!
Desembaraçou logo o divan dos jornaes e das brochuras;