OS MAIAS
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O cocheiro levou o break, o creado sobraçou as maletas. Cruges, enthusiasmado com Cintra, rompeu pela escada acima, a assobiar — ­conservando aos hombros o chaile-manta, de que se não queria separar, porque lh’o emprestara a mamã. E apenas chegou á porta da sala do jantar, estacou, ergueu os braços, teve um grito.

— ­Oh Euzebiosinho!

Carlos correu, olhou... Era elle, o viuvo, acabando de almoçar, com duas raparigas hespanholas.

Estava no topo da meza, como presidindo, diante de uns restos de pudim e de pratos de fructa, amarellado, despenteado, carregado de luto, com a larga fita das lunetas pretas passada por traz da orelha, e uma rodela de taffetá negro sobre o pescoço tapando alguma espinha rebentada.

Uma das hespanholas era um mulherão trigueiro, com signaes de bexigas na cara; a outra muito franzina, de olhos meigos, tinha uma roseta de febre, que o pó de arroz não desfarçava. Ambas vestiam de setim preto, e fumavam cigarro. E na luz e na frescura que entrava pela janella, pareciam mais gastas, mais molles, ainda pegajosas da lentura morna dos colxões, e cheirando a bafio de alcova. Pertencendo á sucia havia um outro sujeito, gordo, baixo, sem pescoço, com as costas para a porta e a cabeça sobre o prato, babujando uma metade de laranja.

Durante um momento, Euzebiosinho ficou interdito com o garfo no ar; depois lá se ergueu, de guardanapo na mão, veiu apertar os dedos aos amigos, balbuciando