OS MAIAS
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passando n’um rumor de pachorrenta penitencia por tardes de sol e de poeira...

Foi necessario calmal-a, voltar a Bemfica.

Ahi começou uma vida desconsolada. Maria Eduarda definhava lentamente, todos os dias mais pallida, levando semanas immovel sobre um canapé, com as mãos transparentes cruzadas sobre as suas grossas pelles d’Inglaterra. O padre Vasques, apoderando-se d’aquella alma aterrada para quem Deus era um amo feroz, tornára-se o grande homem da casa. De resto Affonso encontrava a cada momento pelos corredores outras figuras canonicas, de capote e solideo, em que reconhecia antigos franciscanos, ou algum magro capuchinho parasitando no bairro; a casa tinha um bafio de sachristia; e dos quartos da senhora vinha constantemente, dolente e vago, um rumor de ladainha.

Todos aquelles santos varões comiam, bebiam o seu vinho do Porto na copa. As contas do administrador appareciam sobrecarregadas com as mesadas piedosas que dava a senhora: um Frei Patricio surripiára-lhe duzentas missas de cruzado por alma do Sr. D. José I...

Esta carolice que o cercava ia lançando Affonso n’um atheismo rancoroso: quereria as egrejas fechadas como os mosteiros, as imagens escavacadas a machado, uma matança de reverendos... Quando sentia na casa a voz de resas, fugia, ia para o fundo da quinta, sob as trepadeiras do mirante, ler o seu Voltaire: ou então partia a desabafar com o seu velho