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OS MAIAS

antes de deixar Sitiaes, Cruges quiz explorar o outro terraço ao lado: e, apenas subira os dous velhos degraus de pedra, soltou de lá um grito alegre:

— ­Bem dizia eu! cá estão elles... E vocês a dizer que não!

Foram-n’o encontrar triumphante, diante de um montão de penedos, polidos pelo uso, já com um vago feitio de assentos, deixados ali outr’ora, poeticamente, para dar ao terraço uma graça agreste de selva brava. Então, não dizia elle? Bem dizia elle que em Sitiaes havia penedos!

— ­Se eu me lembrava perfeitamente! Penedo da Saudade, não é que se chama, Alencar?

Mas o poeta não respondeu. Diante d’aquellas pedras crusara os braços, sorria dolorosamente; e immovel, sombrio no seu fato negro, com o panamá carregado para a testa, envolveu todo aquelle recanto n’um olhar lento e triste.

Depois, no silencio, a sua voz ergueu-se, saudosa e dolente:

— ­Vocês lembram-se, rapazes, nas Flôres e Martyrios, de uma das cousas melhores que lá tenho, em rimas livres, chamada 6 de Agosto? Não se lembram talvez... Pois eu vol-a digo, rapazes!

Machinalmente tirara do bolso o lenço branco. E com elle fluctuante na mão, puxando Carlos para junto de si, chamando do outro lado o Cruges, baixou a voz como n’uma confidencia sagrada, recitou, com um ardor surdo, mordendo as syllabas, tremulo, n’uma paixão ephemera de nervoso: