OS MAIAS
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Bebado! Elle? Ora essa!... Era cousa que não podia, era empiteirar-se. Tinha feito o possivel, bebido tudo, até agua raz. Nunca! Não podia...

— ­Olha, vou pôr aquella garrafa á boca, tu verás... E fico frio, fico impassivel. A discutir philosophia... Queres que te diga o que penso de Darwin? É uma besta... Ora ahi tens. Dá cá a garrafa.

Mas Craft recusou-lh’a; e, um momento Ega ficou oscillando, a olhar para elle, com a face livida.

— ­Ou me dás a garrafa... ou me dás a garrafa, ou te metto uma bala no coração... Não, nem vales a bala... Vou-te dar uma bolacha!

De repente os olhos cerraram-se-lhe, abatteu-se sobre a cadeira, d’ahi sobre o chão, como um fardo.

— ­Terra! disse tranquillamente Craft.

Tocou a campainha, o escudeiro entrou, apanharam João da Ega. E emquanto o levavam para o quarto dos hospedes e lhe despiam o fato de Satanaz, não cessou de choramingar, dando beijos babosos pelas mãos de Carlos, balbuciando:

— ­Rachelsinha!... Racaqué, minha Raquesinha! gostas do teu bibichinho?...

Quando Carlos partiu na tipoia para Lisboa, não chovia, um vento frio ia varrendo o ceu, já clareava a alvorada.

Ao outro dia, ás dez horas, Carlos voltou aos Olivaes. Achou Craft dormindo, e subiu ao quarto do Ega. As janellas tinham ficado abertas, um largo raio de sol dourava o leito; e elle ressonava ainda, no meio d’aquella aureola, deitado de lado, com os joelhos