OS MAIAS
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credores! Que havia de fazer, senão valer-se de Carlos? Carlos, para regular tudo, emprestou-lhe dois contos de réis.

Depois, tendo despedido os criados da Villa Balzac, surgiram-lhe outras complicações. A mãe do pagem veiu d’ahi a dias ao Ramalhete, muito insolente, gritando que o filho lhe desapparecera! E era exacto: o famoso pagem, pervertido pela cozinheira, sumira-se com ella para as viellas da Mouraria, a começar ahi uma divertida carreira de faia.

Ega recusou-se a attender ás reclamações da matrona. Que diabo tinha elle com essas torpezas?

Então o amante da creatura interveiu, ameaçadoramente, Era um policia, um esteio da ordem: e deu a entender que lhe seria facil provar como na Villa Balzac se passavam «cousas contra a natureza», e que o pagem não era só para servir á meza... Nauseado até á morte, Ega pacteou com a intrugice, largou cinco libras ao policia. Quando n’essa noite, uma noite triste d’agoa, Carlos e Craft o acompanharam a Santa Apolonia, elle disse-lhes na carruagem estas palavras, triste resumo d’um amor romantico:

— ­Sinto-me como se a alma me tivesse cahido a uma latrina! Preciso um banho por dentro!

Affonso da Maia ao saber este desastre do Ega, tinha dito a Carlos, com tristeza:

— ­Má estreia, filho, pessima estreia!