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OS MAIAS

uma toilette exaggerada, d’um tom de folha de outono amarellada, d’uma seda grossa, que ao menor movimento fazia um ruge-ruge de folhas seccas.

— ­Que lindo tempo tem feito! exclamou ella de repente, como acordando.

— ­Lindo! disse Carlos. Eu estive ha dias em Cintra, e não imagina... Era d’uma belleza de idyllio.

E immediatamente arrependeu-se, quiz-se mal por ter fallado da sua ida a Cintra, n’aquella sala.

Mas a condessa mal o escutára. Tinha-se erguido, fallando de algumas canções que essa manhã recebera de Inglaterra, as novidades frescas da season. Depois, sentou-se ao piano, correu os dedos no teclado, perguntou a Carlos se conhecia aquella melodia — ­The pale star. Não, Carlos não conhecia. Mas todas essas canções inglezas se parecem, sempre do mesmo tom dolente, romanesco, e muito miss. E trata-se sempre d’um parque melancolico, um regato lento, um beijo sob os castanheiros...

Então a condessa leu alto a letra da Pale star. E era a mesma cousa, uma estrellinha de amor palpitando no crepusculo, um lago pallido, um timido beijo sob as arvores...

— ­É sempre o mesmo, disse Carlos, e é sempre delicioso.

Mas a condessa atirou o papel para o lado, achando aquillo estupido. Começou a remexer entre os papeis de musica, nervosa, e com um olhar que escurecia. Para quebrar o silencio, Carlos gabou-lhe as suas lindas flores.