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OS MAIAS

longo suspiro morreu, n’um rumor de saias amarrotadas.

D’ahi a um momento estavam ambos de pé: Carlos, junto do busto, coçando a barba, com o ar embaraçado, e já vagamente arrependido: ella, diante do tremó Luiz XV, compondo, com os dedos tremulos, o frisado do cabello. De repente, na antecamara, ouviu-se a voz do conde. Ella, bruscamente, voltou-se, correu a Carlos, e, com os longos dedos cobertos de pedrarias, agarrou-lhe o rosto, atirou-lhe dois beijos faiscantes ao cabello e aos olhos. Depois, sentou-se largamente no sophá — ­e estava fallando de Cintra, rindo alto, quando o conde entrou, seguido de um velho calvo, que se vinha a assoar a um enorme lenço de seda da India.

Ao vêr Carlos no boudoir, o conde teve uma bella surpreza, esteve-lhe apertando as mãos muito tempo, com calor, assegurando-lhe que ainda n’essa manhã, na camara, se lembrara d’elle...

— ­Então, por que vieram tão tarde? exclamou a condessa, que se apoderara logo do velho, rindo, mexendo-se, animada, amavel.

— ­O nosso conde fallou! disse o velho, ainda com o olho brilhante de enthusiasmo.

— ­Fallaste? exclamou ela, voltando-se com um interesse encantador.

É verdade, fallara; e desprevenido! Quando ouvira porém o Torres Valente (homem de litteratura, mas um doido, sem senso pratico) quando o ouvira defender a gymnastica obrigatoria nos collegios — ­