por cartões de modista, encolhia-se o Monforte, de grande chapéo panamá, calça de ganga, o mantelete da filha no braço, o guarda sol entre os joelhos. Iam callados, não viram o mirante; e, no caminho verde e fresco, a caleche passou com balanços lentos, sob os ramos que roçavam a sombrinha de Maria. O Sequeira ficara com a chavena de café junto aos labios, de olho esgazeado, murmurando:
— Caramba! É bonita!
Affonso não respondeu: olhava cabisbaixo aquella sombrinha escarlate, que agora se inclinava sobre Pedro, quasi o escondia, parecia envolvel-o todo — como uma larga mancha de sangue alastrando a caleche sob o verde triste das ramas.
O outono passou, chegou o inverno, frigidissimo. Uma manhã, Pedro entrou na livraria onde o pae estava lendo junto ao fogão; recebeu-lhe a benção, passou um momento os olhos por um jornal aberto, e voltando-se bruscamente para elle:
— Meu pae, — disse, esforçando-se por ser claro e decidido — venho pedir-lhe licença para casar com uma senhora que se chama Maria Monforte.
Affonso pousou o livro aberto sobre os joelhos, e n’uma voz grave e lenta:
— Não me tinhas fallado d’isso... Creio que é a filha d’um assassino, d’um negreiro, a quem chamam tambem a negreira...
— Meu pae!...
Affonso ergueu-se diante d’elle, rigido e inexoravel como a encarnação mesma da honra domestica.