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OS MAIAS

o distante amor que os seus olhos lhe tinham offerecido claramente, o mais luminosamente que tinham podido, n’esses fugitivos instantes que se tinham cruzado com os d’ella — ­então poderia ter mandado chamar outro medico, um clinico qualquer, um estranho. Mas não: o seu olhar respondera ao d’elle, e ella abria-lhe a sua porta... — ­E o que sentia a esta idéa era uma gratidão ineffavel, um impulso tumultuoso de todo o seu ser a cahir-lhe aos pés, ficar-lhe beijando a orla do vestido, devotamente, eternamente, sem querer mais nada, sem pedir mais nada...

Quando Craft d’alli a pouco desceu, de casaca, fresco, alvo, engommado, correcto — ­achou Carlos, ainda com toda a poeira da estrada, de chapéo na cabeça, passeando o quarto, n’esta agitação radiante.

— ­Você está a faiscar, homem! disse Craft, parando deante d’elle, com as mãos nos bolsos, e contemplando-o um instante do alto do seu resplandecente collarinho. Você flameja!... Você parece que tem uma auréola na nuca!... Você succedeu-lhe o quer que seja de muito bom!

Carlos espreguiçou-se, sorrindo. Depois olhou para Craft um momento, em silencio, encolheu os hombros, e murmurou:

— ­A gente, Craft, nunca sabe se o que lhe succede é, em definitivo, bom ou mau.

— ­Ordinariamente é mau, disse o outro friamente, aproximando-se do espelho a retocar com mais correcção o nó da gravata branca.