OS MAIAS
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N’essa mesma soirée, o Villaça informára Pedro que o pae era esperado no dia seguinte em Bemfica. E Pedro, logo que se recolheram, fallou a Maria em «irem fazer a grande scena ao papá.» Ella, porém, recusou, e com as razões mais imprevistas, as mais sensatas. Tinha cogitado muito! Reconhecia agora que um dos motivos d’aquella teima do papá — ­ultimamente chamava-lhe sempre o papá — ­era essa extraordinaria existencia de Arroios...

— ­Mas filha, disse Pedro, escuta, nós não vivemos tambem em plena orgia... Alguns amigos que veem...

Pois sim, pois sim... Mas, realmente, estava decidida a ter um interior mais calmo e mais domestico. Era mesmo melhor p’ra os bébés. Pois bem, queria que o papá estivesse convencido d’essa transformação, para que as pazes fossem mais faceis e eternas.

— ­Deixa passar dois ou tres mezes... Quando elle souber como nós vivemos quietinhos, eu o trarei, socega... É bom tambem que seja quando meu pae partir para as aguas, para os Pyrineos. Que o pobre papá, coitado, tem medo do teu... Filho, não achas assim melhor?

— ­És um anjo, foi a resposta de Pedro, beijando-lhe ambas as mãos.

Toda a antiga maneira de Maria pareceu com effeito ir mudando. Suspendera as soirées. Começou a passar as noites muito recolhidas, com alguns intimos, no seu boudoir azul. Já não fumava; abandonara o bilhar; e vestida de preto, com uma flôr nos cabellos,