OS MAIAS
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um arranque brutal de homem trahido! Vinha atirar-se para um sophá, chorando miseravelmente! Isto indignou-o, e rompeu a passeiar pela sala, rigido e aspero, cerrando os labios para que não lhe escapassem as palavras de ira e de injuria que lhe enchiam o peito em tumulto... — ­Mas era pae: ouvia, alli ao seu lado, aquelle soluçar de funda dôr; via tremer aquelle pobre corpo desgraçado que elle outr’ora emballara nos braços; — ­parou junto de Pedro, tomou-lhe gravemente a cabeça entre as mãos, e beijou-o na testa, uma vez, outra vez, como se elle fosse ainda creança, restituindo-lhe alli e para sempre a sua ternura inteira.

— ­Tinha razão, meu pae, tinha razão, murmurava Pedro entre lagrimas.

Depois ficaram callados. Fóra, as pancadas successivas da chuva batiam a casa, a quinta, n’um clamor prolongado; e as arvores, sob as janellas, ramalhavam n’um vasto vento de inverno.

Foi Affonso que quebrou o silencio:

— ­Mas para onde fugiram, Pedro? Que sabes tu, filho? Não é só chorar...

— ­Não sei nada, respondeu Pedro n’um longo esforço. Sei que fugiu. Eu sahi de Lisboa na segunda feira. N’essa mesma noite, ella partiu de casa n’uma carruagem, com uma maleta, o cofre de joias, uma creada italiana que tinha agora, e a pequena. Disse á governante e á ama do pequeno que ia ter comigo. Ellas estranharam, mas que haviam de dizer?... Quando voltei, achei esta carta.