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OS MAIAS

— ­Grande prenda, grande prenda, murmurou Villaça, inclinando-se para a Viscondessa.

A excellente senhora córou, atravez d’um sorriso. Parecia assim mais gorda, toda acaçapada na cadeira, silenciosa, comendo sempre; e, a cada gole de Bucellas, refrescava-se languidamente com o seu grande leque negro e lentejoulado.

Quando o Teixeira serviu o vinho do Porto, Affonso fez uma saude ao Villaça. Todos os copos se ergueram n’um rumor de amizade. Carlos quiz gritar Hurrah! O avô, com um gesto reprehensivo, immobilisou-o; e na pausa satisfeita que se fez, o pequeno disse com uma grande convicção:

— ­Oh avô, eu gosto do Villaça. O Villaça é nosso amigo.

— ­Muito, e ha muitos annos, meu senhor! exclamou o velho procurador, tão commovido que mal podia erguer o calice na mão.

O jantar findava. Fóra, o sol deixára o terrasso e a quinta verdejava na grande doçura do ar tranquillo, sob o azul ferrete. Na chaminé só restava uma cinza branca: os lilazes das jarras exhalavam um aroma vivo, a que se misturava o do creme queimado, tocado de um fio de limão: os creados, de colletes brancos, moviam o serviço d’onde se escapava algum som argentino: e toda a alva toalha adamascada desapparecia sob a confusão da sobremesa onde os tons dourados do vinho do Porto brilhavam entre as compoteiras de crystal. A Viscondessa affogueada abanava-se. Padre Custodio enrolava devagar