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OS MAIAS

com uma languida resignação, como quem attribue tudo á malicia dos Destinos.

— São as ridiculas scenas da vida... O snr. Carlos da Maia está d’ahi a vêr as coisas. É a velha, a classica historia... Ha tres annos que eu vivo com essa senhora; quando tive o inverno passado d’ir ao Brazil, trouxe-a a Lisboa para não vir sósinho. Fômos para o hotel Central. V. exc.ª comprehende perfeitamente que eu não fui fazer confidencias ao gerente do estabelecimento. Aquella senhora vinha commigo, dormia commigo, portanto, para todos os effeitos do hotel, era minha mulher. Como mulher de Castro Gomes ficou no Central; como mulher de Castro Gomes alugou depois uma casa na rua de S. Francisco; como mulher de Castro Gomes tomou emfim um amante... Deu-se sempre como mulher de Castro Gomes, mesmo nas circumstancias mais particularmente desagradaveis para Castro Gomes... E, meu Deus! não podemos realmente condemnal-a muito... Achava-se por acaso revestida d’uma excellente posição social e d’um nome puro, seria mais que humano que o seu amor da verdade a levasse, apenas conhecia alguem, a declarar que posição e nome eram de emprestimo e ella era apenas «Fulana de tal, amigada...» De resto, sejamos justos, ella não era moralmente obrigada a dar semelhantes explicações ao tendeiro que lhe vendia a manteiga, ou á matrona que lhe alugava a casa: nem mesmo, penso eu, a ninguem, a não ser a um pai que lhe quizesse