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OS MAIAS

e curto. Já dias antes, tendo-se encontrado no Loreto, o Gouvarinho murmurára de leve e de passagem «um como está, Maia?» em que se sentia arrefecimento. Ah! já não eram essas effusões, essas palmadas enternecidas pelos hombros, dos tempos em que Carlos e a condessa fumavam cigarettes na cama da titi em Santa Isabel. Agora que Carlos abandonára a snr.ª condessa de Gouvarinho, a rua de S. Marçal e o commodo sofá em que ella cahia com um rumor de saias amarrotadas — o marido amuava, como abandonado tambem.

— Tenho tido saudade das nossas bellas discussões em Cintra! disse elle, dando ao Ega a palmada carinhosa nas costas que outr’ora pertencia ao Maia. Tivemol-as de primeira ordem!

Eram realmente «pégas tremendas» no pateo do Victor sobre litteratura, sobre religião, sobre moral... Uma noite mesmo tinham-se zangado por causa da divindade de Jesus.

— É verdade! acudiu o Ega. Vossê n’essa noite parecia ter ás costas uma opa de irmão do Senhor dos Passos!

O conde sorriu. Irmão do Senhor dos Passos não, graças a Deus! Ninguem melhor do que elle sabia que n’esses sublimes episodios do Evangelho reinava bastante lenda... Mas emfim eram lendas que serviam para consolar a alma humana. É o que elle objectára n’essa noite ao amigo Ega... Sentiam-se a philosophia e o racionalismo capazes de consolar a mãi que chora? Não. Então...