OS MAIAS
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E ficou devorando o neto, o Ega, com um olhar esgazeado e mudo.

— Esse homem, exclamou Carlos, é um Guimarães, um tio do Damaso... Fallou com o Ega, foi ao Ega que entregou os papeis... Conta tu ao avô, Ega, conta tu do começo!

Ega, com um suspiro, resumiu a sua longa historia. E findou por dizer que o importante, o decisivo alli era este homem, o Guimarães, que não tinha interesse em mentir e só por acaso, puramente por acaso, fallára em taes coisas — conhecia essa senhora, desde pequenina, como filha de Pedro da Maia e de Maria Monforte. E nunca a perdera de vista. Vira-a crescer em Paris, andára com ella ao collo, dera-lhe bonecas. Visitára-a com a mãi no convento. Frequentára a casa que ella habitava em Fontainebleau, como casada...

— Emfim, interrompeu Carlos, viu-a ainda ha dias, n’uma carruagem, commigo e com o Ega... Que lhe parece, avô?

O velho murmurou, n’um grande esforço, como se as palavras sahindo lhe rasgassem o coração:

— Essa senhora, está claro, não sabe nada...

Ega e Carlos, a um tempo, gritaram: — «Não sabe nada!» Segundo affirmava o Guimarães, a mãi escondera-lhe sempre a verdade. Ella julgava-se filha d’um austriaco. Assignava-se ao principio Calzaski...

Carlos, que remexera sobre a mesa, adiantou-se com um papel na mão: