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OS MAIAS

— Uma belleza! gritou Alencar, enchendo outro copo de cognac. Uma musica toda do sul, cheia de luz, cheirando a laranjeira... Mas já lhe tenho dito: «Deixa lá a opereta, rapaz, vôa mais alto, faze uma grande symphonia historica!» Ainda ha dias lhe dei uma idéa. A partida de D. Sebastião para a Africa. Cantos de marinheiros, atabales, o chôro do povo, as ondas batendo... Sublime! Qual, põe-se-me lá com castanholas... Emfim, acabou-se, tem muito talento, e é como se fosse meu filho porque me sujou muita calça!...

Mas o maestro, inquieto, passava os dedos pela grenha. Por fim confessou a Carlos que não se podia demorar, tinha um rendez-vous...

— D’amor?

— Não... É o Barradas que me anda a tirar o retrato a oleo.

— Com a lyra na mão?

— Não, respondeu o maestro, muito sério. Com a batuta... E estou de casaca.

E desabotoou o paletot, mostrou-se em todo o seu esplendor, com dois coraes no peitilho da camisa, e a batuta de marfim mettida na abertura do collete.

— Estás magnifico! affirmou Carlos. Então outra coisa, vem cá jantar logo. Alencar, tu tambem, hein? Quero ouvir esses bellos versos com socego... Ás seis, em ponto, sem falhar. Tenho um jantarinho á portugueza que encommendei de manhã,