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MONTEIRO LOBATO

que me vem á idéa é essa : amor ! Mas amará elle a alguem ?

— Pois de certo. Quem não ama neste mundo? Os passarinhos, as borboletas, as vespas...

— Mas a quem amará elle? A alguma preta do eito, com certeza... — e riu-se desabaladamente.

— Aquelle ? fez Liduina n'um muxoxo. Não é desses, não, sinházinha. Moço pobre mas de condição. Para mim eu acho até que elle é filho d'algura fidalgo do reino que anda por aqui escondido...

Izabel quedou-se pensativa.

— Mas a quem amará elle, então, aqui neste deserto de brancas ?

— Pois ás brancas...

— Quaes ?

— D. Ignezinha... D. Izabelinha...

A mulher desappareceu por um momento para ceder o lugar á filha do fazendeiro.

— Eu ? Engraçadinha ! Era só o que faltava...

Liduina calou-se. Deixou que a semente lançada corresse o prazo da germinação. E vendo um casal de borboletas a perseguirem-se com estalidos de azas mudou o rumo á conversa.

— Sinházinha já viu destas borboletas de perto ? Teem dois numeros debaixo das asas — oito, oito. Quer ver ?

Correu atrás dellas.

— Não pégas ! gritou Izabel, divertida.

— Mas pégo esta aqui, retrucou Liduina apa-