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MONTEIRO LOBATO

ria, mas murmurada em soliloquio, aos arrancos, ás vezes em soluços, outras em cicio imperceptivel. Tão estranha era essa forma de narrar que o velho tio Bento não percebeu coisa nenhuma.

E foi com ella a borbulhar, a queimar-me o cerebro que vi chegar a manhã.

— Bemdita sejas, luz !

Ergui-me alvoroçado.

Abri a janella, a renascer-me dos horrores nocturnos.

O sol lá estava, espiando-me dentre a copa do arvoredo.

Seus raios de ouro invadiram-me a alma. Varreram della os frocos fluctuantes de trevas que inda a escurentavam qual cabellugem de pesadelo.

O ar lavado e fino encheu-me os pulmões da delirante vida matutina.

Respirei-o alegremente, em haustos largos.

E Jonas ? Dormia ainda, repousado de feições.

Era "elle" outra vez.

0 "outro" fugira com as trevas da noite.

Tio Bento, tambem desperto, enrolava a esteirinha rota.

— Tio Bento, disse-lhe eu. Conte-me o resto da historia. Que fim teve Liduina ?

O velho preto preparou-se para contal-a, a partir do ponto em que a interrompera.

— Não, intervim, dispenso isso tudo. Quero