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MONTEIRO LOBATO

Interpellei-o sobre o eclypse nocturno de sua alma, mas Jonas deu a entender que estava alheio a tudo.

Enrugou a testa. Reflectiu.

— Lembro-me apenas que uma "coisa" me invafui empolgado, que luctei com desespero ...

— E depois ?

— Depois ?... Depois um vacuo...

Sahimos para fóra.

A casa maldicta, mergulhada na onda de luz matutina, perdera o aspecto tragico.

Disse-lhe adeus — para sempre...

— "Vade retro"...

E fomo-nos á casinhola do preto engulir o café e arreiar os animaes.

De caminho espiei pelas grades da casa do tronco : na taipa grossa da parede havia um trecho murado a tijolo...

Afastei-me, horripilado.

E guardei commigo o segredo da tragedia de Fernão. Só eu no mundo o sabia, contado por elle proprio, oitenta annos após a catastrophe.

Só eu !

Mas como não sei guardar segredo revelei-o, em caminho, ao Jonas.

Elle riu-se á larga e disse estendendo-me o dedo minguinho :

— Morde aqui !...— e desiste, meu caro: tu não dás para romancista...

FIM