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depois o Bojador. Transpoz-se esse limite em 1433? logo affluiram a Portugal estrangeiros curiosos d’essa novidade, e logo D. Henrique tratou de se assegurar da posse das terras que vae descobrir. Depois da expedição de Antão Gonçalves e de Nuno Tristão em 1441, vão embaixadores portuguezes ao papa Eugenio IV a pedir-lhe as bullas necessarias, e já com Antão Gonçalves na viagem immediata vae o allemão Balthazar, que vem da côrte do imperador Frederico III correr estas novas aventuras.[1] E

  1. Ha bullas de Eugenio IV, de Nicolau V, de Martinho V, de Calixto III, de Xisto IV. A bulla de Calixto III, confirmando as de Martinho V e Nicolau V, declara que o descobrimento das terras de Africa Occidental o não possam fazer senão os reis de Portugal. A bulla está no Archivo Real da Torre do Tombo no Livro dos Mestrados, fl. 151 e 168. Veja-se a minha Historia de Portugal, tom. III, pag. 248, nota 1, (2.ª edição). A bulla de Nicolau V, que já citámos, de 8 de janeiro de 1454, concedia a el-rei de Portugal, ao infante D. Henrique e a todos os reis de Portugal, seus successores, todas as conquistas de Africa com as ilhas nos mares adjacentes desde o cabo de Bojador e de Não e de toda a Guiné com toda a sua costa meridional. (Arch. Real da Torre do Tombo, maç. 7 de bullas, n.º 29, e maç. 33, n.º 14). Por isso, D. João II, quando fallou a Christovão Colombo a 9 de março de 1493, lhe disse, que se regosijava tanto mais com a sua conquista, quanto tudo quanto elle descobrira pertencia de direito a Portugal. Humboldt, Histoire de la géographie du Nouveau-Continent, tom. I, sec. 1.ª, Nota E, pag. 331. E effectivamente por algum tempo se discutiu se os descobrimentos de Christovão Colombo eram ou não de ilhas nos mares adjacentes á costa africana. E não acham curioso que, se Francezes ou Hespanhoes ou Italianos, antes de nós, tivessem passado para deante do Bojador, acceitassem e reconhecessem e fizessem respeitar por leis e decretos o direito que nós tinhamos de não consentir que se fizessem descobrimentos n’esses mares, ou, no caso de se fazerem, o direito que tinhamos ao menos, á posse d’essas terras descobertas!!
    A proposito d’esse cavalleiro allemão Balthazar, que acompanhou Antão Gonçalves, diz o auctor d’este livro: «Antão Gonçalves voltou a Portugal com os negros, e Balthazar o cavalleiro allemão que o acompanhava tornou para a sua terra, onde foi naturalmente a maravilha de todos os que o escutavam, e um novo Sindbad para os pasmados Germanos. A narração das tempestades, dos perigos, dos estranhos costumes dos Azenegues devia occupar bastantes serões de inverno nos velhos castellos allemães junto da vasta lareira, emquanto gemesse lá fóra o vento e cahisse a neve cobrindo de alvo manto o solo endurecido.» Hist. de Portugal, tom. III, pag. 252 (2.ª edição).