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para emprezas, que só com grande perseverança se podem realizar, e essa perseverança só a encontra quem tem um enthusiasmo absolutamente exclusivo. Quaes são as instrucções que levam sempre os capitães dos navios de D. Henrique? Procurar identificar os rios que descobrem com o Nilo dos Negros, que a geographia systematica dos antigos considerava como um braço do grande rio egypcio que vinha desemboccar no Atlantico. Julgam encontral-o ao ter chegado ao Senegal como depois o imaginam ainda no Niger, e talvez no Zaire tambem. E tão absortos estiveram por muito tempo os Portuguezes no seu respeito cego pelo saber da antiguidade, que ainda foi um piloto portuguez no seculo XVI que procurou commentar e explicar o Periplo de Hannon, sendo o seu commentario na Italia de todos o mais apreciado.[1] No proprio momento em que podiam justamente ufanar-se de sulcar mares nunca d’antes navegados, ainda se escondiam modestamente por traz da sombra de Hannon, o legendario navegador, que, tendo chegado a algumas leguas do estreito de Gibraltar, imaginou logo ter percorrido um immenso espaço de agua![2]

  1. Este commentario vem publicado na collecção de Ramusio.
  2. O sabio francez Letronne n’uma memoria publicada no Journal des Savants de agosto de 1831, diz o seguinte: «L’hypothése d’un prolongement indéfini de la côte occidentale d’Afrique, à partir d’une latitude voisine de l’Équateur, était fondée sur la direction de la côte d’Afrique depuis la rivière de Nun jusqu’au cap Bojador que l’expédition d’Hannon n’avait pas dépassée