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em que, rodeiado dos seus martyres, como de uma legião sagrada da fé e do bem, reinaria sobre a terra até que ella desapparecesse subvertida no cataclysmo final.

O que nascia, pelo contrario, era a crença desanimadora ao anno Mil, annunciado como o anno em que o mundo acabaria sem ter tido a consolação suprema de vêr o reinado do Bem; mas o anno Mil passou sem trazer comsigo o cataclysmo esperado. Seria afinal verdadeira a promessa do reino millenario, do reino dos martyres, que o Apocalypse de João annunciou? E a idéa d’aquelle Presbytero João, que vive a sua longa existencia nos páramos do Oriente, testemunha millenaria do grande acto da Paixão, fluctúa no animo dos povos. Não será em torno d’elle que se agruparão os bons, os martyres, os fieis, e não será nas suas terras que estará irradiando uma perpetua aurora, tranquilla, suave, toda misericordia e paz, emquanto cá pelo Occidente parece que o sol se afoga todos os dias n’um occaso sanguineo, n’um horizonte perpetuamente em braza, entre os clamores dos miserandos que teem sêde de justiça e o tinir das espadas gottejantes de sangue, o crepitar das chammas dos incendios e o rugido dos mares e as gargalhadas da impiedade? E lá no Oriente, onde existe o Paraizo, começa-se a devanear tambem a existencia de outro Paraizo mais accessivel ao homem, se é