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aventura a barca dos cysnes dos Eddas que o ha de levar atravez dos mares da lenda ás regiões dos sonhos. Para esses e para muitos outros Portuguezes, como o velho Soeiro da Costa, como esse Alvaro de Freitas que tanto acaricia a idéa de ver de perto o Paraizo terreal,[1] é um romance de cavallaria que se está pondo em acção na patria de Amadis de Gaula. São os Templarios resuscitados que investem com o mar como os Templarios antigos com as ondas dos sarracenos, e o manto branco da ordem de Christo que fluctua ao sopro do vento, e a bandeira com a cruz vermelha que palpita na popa das caravelas com os bafejos do Oceano são os ultimos symbolos d’esse idealismo da idade média cavalheiresca que vae dissolver-se na epocha burgueza que já apparece no horizonte dos tempos. E esse rijo cavalleiro, ascetico, tenaz, que do alto do promontorio de Sagres lança os seus legionarios á conquista do desconhecido, ao cair prostrado pela morte, sem ter ainda encontrado o edeal que lhe absorvera a existencia, desapparece da scena do mundo, deixando resolvido um dos grandes problemas da existencia humana na terra, no mesmo momento em que outro cavalleiro andante, esse deveras o ultimo, Christovão

  1. Alvaro de Freitas ia na expedição commandada por Lançarote, almoxarife em Lagos, e n’um momento de enthusiasmo declarou que estava prompto a seguir o seu chefe até ao Paraizo Terreal. V. a minha Hist. de Portugal, tom. III, pag. 271.