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Note-se porém que fôra Ptolomeu que corrigira os calculos de Marino de Tyro, e que a opinião de Colombo tinha portanto contra si a do geographo mais afamado da antiguidade. Comtudo Colombo aferra-se á sua opinião, e quando está na America julgando estar na Asia, persiste, e até se apoia nas opiniões dos navegadores portuguezes, dizendo: «E agora que os Portuguezes navegam tanto, acham que Marino foi exacto.»[1] E note-se ainda que Colombo avaliava o grau em 56 milhas e ⅔, baseando-se nos calculos do geographo arabe Al-Fragan, e confundindo assim a milha italiana com a milha de Al-Fragan, de fórma que o grau ficava tendo apenas pouco mais de 14 leguas. Toscanelli, na sua famosa carta de 1474, avaliava o espaço a percorrer de um modo differentissimo. D. João II ver-se-hia de certo embaraçado para avaliar quem tinha razão, e regeitaria então sem hesitar o projecto de Colombo se soubesse que de todos os geographos da antiguidade o que menos se enganára fôra Eratostenes que calculára a distancia entre o promontorio Sacro, quer dizer o cabo de S. Vicente e a Sera, quer dizer a China, em 240 grau. A distancia verdadeira é 230.[2]

  1. Veja-se a interessante obra de Navarrete, tom. I, pag. 300.
  2. Strabão, II, pag. 83, 113 e 116. Itaque, diz Strabão na formosa passagem em que prophetisa a America, compluribus verbis persuadere nititur Eratosthenes nisi Atlantici maris obstaret magnitudo, posse nos navigare in eodem parallelo, ex Hispania in Indiam per universum id quod reliquem est, demta dicta distantia (hoc est longitudinæ terræ habitatæ) quæ totius circuli trientem excedit». Strabo, liv. I, pag. 113-114. Assim, excedendo as terras habitadas a terça parte do parallelo, o mar a percorrer é um pouco inferior a ⅔ e menos de 240°, mais de 236°. A differença imaginada por Eratosthenes e Strabão e a distancia verdadeira não é grande.