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pertencendo a El-Rei de Portugal, como acima fica dito.[1] Lá se ía a Terra Nova, se ella já estivesse descoberta, porque só o que d’ahi em diante se descobrisse n’essas ultimas cento e vinte leguas de zona portugueza poderia ficar pertencendo a El-Rei de Portugal.

Ora não era de certo platonicamente que D. João II reclamava para si 370 leguas de mar para o occidente, mas em aproveital-as tinha o governo portuguez de ser prudentissimo para não despertar as justas reclamações do governo de Hespanha. Era necessario que se mostrasse sempre empenhado em proseguir as suas descobertas para o oriente, deixando a Hespanha á vontade para o occidente. As 370 leguas deviam servir-lhe para poder navegar com os braços livres para o sul. Tambem no primeiro momento não teria o nosso governo outro intuito. A expedição da India absorvia-lhe todo o pensamento.

Vasco da Gama foi e attingiu a meta, e a gloria immensa que d’ahi proveio e os proventos palpaveis e immediatos que d’ahi resultavam escureceram por um momento a gloria de Colombo. Comtudo era incontestavel que a viagem pelo Cabo da Boa Esperança

  1. Quadro elementar das relações politicas e diplomaticas de Portugal com as diversas potencias do mundo, t. II, pag. 390 Lisboa, 1844. O tratado vem publicado in extenso.