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era, como se vê, a que ficava para cá do cabo Bojador, e tanto assim que o papa Innocencio VII disse, escrevendo a Bethencourt, que sabia ficarem as ilhas Canarias a doze leguas de Guiné.[1] Que immenso cuidado é necessario, quando se procura destruir uma tradição profundamente e fortemente documentada! Quantas causas de erro escapam ao investigador ou frivolo, ou negligente, que se ufana de encontrar n’um velho alfarrabio um facto que vem destruir completamente o que parecia assente e demonstrado! Basta uma variação de nome para transtornar todas as deducções. Basta que uns não saibam, que outros não reparem que o nome de Guiné foi mudando de sitio, como outros muitos nomes geographicos, á medida que os descobrimentos foram caminhando, para que todas as interpretações caiam por terra! Não basta que se diga que no seculo XIV ou XV houve Francezes que chegaram á Guiné, torna-se indispensavel apurar tambem se a Guiné do principio do seculo XV era a mesma que assim se denominou depois dos descobrimentos. Este apuramento, d’onde resulta sabermos que a Guiné ficava, para os capellães de Bethencourt, áquem do cabo Bojador, destruiria completamente a singularissima reivindicação

  1. Palavras de Innocencio VII, escriptas em 1406 a João de Bethencourt e citadas na relação dos capellães a pag. 197, cap. LXXXIX.