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n’um occeano que passava por sobrenatural, onde se estava talvez á mercê das potencias infernaes;

2.º Atravessar a solidão do Atlantico do occidente ao oriente, até chegar ás praias orientaes da Asia.

A resolução do segundo problema estava dependente da resolução do primeiro. O primeiro acto de audacia era abrir os mares fechados, mostrar que não tinha o Atlantico os perigos reaes e sobrenaturaes de que o rodeiavam a tradição scientifica e a lenda popular. Esse resolveram-n’o os Portuguezes, e ninguem os precedeu nem os podia preceder, pelo simples motivo de que, se alguem antes d’elles tivesse aberto o mare clausum, não teriam elles que o tornar a abrir. Não se fecha o mar como se fecha uma porta. Não tornam a crear-se os phantasmas que o primeiro audacioso dissipou. Se alguem, antes do infante, houvesse rasgado a cortina do mysterio que sequestrava o Atlantico, estava o Atlantico patente. A geographia systematica da antiguidade e da edade média caía em ruinas logo que o primeiro facto real e tangivel tivesse mostrado a inanidade do systema.

Resolvido o primeiro problema, trepidou-se deante do segundo. Não se oppunham á sua resolução nem as theorias geographicas dos antigos, porque bem conhecidas são, acima de tudo, as opiniões de Eratosthenes, nem as opiniões orthodoxas que não contrariavam