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seu maravilhoso, mas que no fundo as acceitam e as applaudem. E assim vamos encontrar por toda a edade média a velha theoria grega reforçada agora pela adhesão arabe em lucta com as prescripções christãs. Não se pode apagar n’esses espiritos medievaes, que tinham pelo saber da antiguidade um supersticioso respeito, a influencia de Ptolomeu, mas deante da voz auctorisada dos Santos Padres tudo se inclina e emmudece. Então vamos encontrar os cartographos da edade média empenhados na improba tarefa, que tantas vezes se tem repetido, de procurarem conciliar as doutrinas da Egreja com a tradição da sciencia. Apparece-nos muitas vezes a terra como um quadrado inscripto n’um circulo, e, ao passo que o systema das espheras applicado ao systema cosmographico encontra nos espiritos da meia edade um verdadeiro engodo, a terra fixa no meio do universo espherico mantem a fórma especial que os Santos Padres decretaram que tivesse.[1] Durante largos seculos pairou sobre a humanidade a duvida mais profunda ácerca da fórma do planeta

  1. Santo Agostinho, S. João Chrysostomo, Lactancio, preconisaram a theoria da terra quadrada declarando-a conforme com o Evangelho, os mappas medievaes como o de Cosmas Indicopleustas do seculo VI, Gervais de Tilbury do seculo XIII, Nicolau d’Oresme do seculo XIV, Guilherme Fillastre do seculo XV. Umas vezes inscreviam-n’a no circulo formado pelos mares, outras vezes pelo contrario, a terra em si é redonda, mas a figura que está inscripta é quadrada.