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um passo tão gigante no conhecimento do mundo, quando a prôa dos nossos navios, como o teria feito a prôa dos navios normandos, se as suas viagens fossem verdadeiras, fazia cair por terra todo um systema geographico, sustentado desde a mais remota antiguidade pelos respeitados eruditos?

Diz Laplace que o merito de uma descoberta pertence não a quem a faz, mas a quem a demonstra. Aqui dava-se o caso mais notavel ainda, de bastar para a demonstrar fazel-a. Como o philosopho antigo que respondia aos que negavam o movimento andando, os Portuguezes responderam aos que sustentavam a impossibilidade de transpor a zona torrida transpondo-a. Essa demonstração tel-a-hiam feito os Normandos, se antes de nós lá tivessem ido, ou os Genovezes ou os Catalães. A gloria tel-a-hiam elles, mas gloria immediata, porque o facto era de tal ordem que não era necessario que decorressem seculos para se lhe reconhecer a importancia.

No capitulo immediato veremos como a fé e a lenda, ainda mais do que a sciencia, fechavam a zona torrida e os mares, que, no dizer de alguns, a enchiam, á investigação do homem. Essas lendas, como as da sciencia, iam sendo rasgadas a pouco e pouco, mas pendiam, assim esfarrapadas, dos hombros dos navegadores. Lembram aquelles nevoeiros de Cintra, que envolvem o valle e a montanha, tendo por cima o céo azul. Á medida que os transpomos,