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Lelio. Porque de ti me affaſtas? que delicto
Oſmîa commetti? S'arranco d'alma
Hum esforço, que apenas mal ſuſtento;
Se por ſalvar-te, em fim, de mil inſultos
Quaſi que a vida exhálo; ſe pertendo
Que partas ſem me ver, qual ſeja a cauſa
Naõ alcanças tu meſma?

Oſmîa. Pretor, bafta,
Compaixaõ tem de mim naõ mais lacéres,
Tu meſmo, o coraçaõ que outros raſgáraõ.

Lelio. Raſgar-te o coraçaõ... Eu? cara Oſmîa!
Que naõ ſoube tocallo? quem naõ pode
Fazer nelle pegar huma faiſca
De fogo que me abraza, poderia,
Morrendo de' afilicçaõ, deſpedaçallo?

Oſmîa. Que terrivel momento! Lelio... baſta.

Lelio. Princeza, tu ſuſpiras?... que? tu choras?...
Serei eu taõ feliz partir naõ queres?
Oh triunfo! Oh! amor!

Oſmîa. Ah! porque a vida
Nao córtas d'uma vez, forte inhumana ?

Lelio. Mas tal agitaçaõ!... tanta amargura!...

Oſmîa. Pretor, naõ imagines... naõ... naõ creias,
Que a minha agitaçaõ... naõ ſei que digo.

Lelio. Proſegue, bella Oſmîa, naõ m'eſcondas
O mal que teus eſpiritos tranſtorna.

Oſmîa. Grata a teus beneficios, mas ligada
Com rigidas cadeias poſſo apenas
Dizer-te que a virtude me levára
A lançar maõ de quanto m'offereces.
Que a gloria o requeria; que meu peito
(Sem poder deſejallos) te acceitára
Taõ illuſtres, taõ grandes ſacrificios;
Mas ſou mais infeliz [1] Hum Deos irado

Me

  1. Chorando.