a mover os dedos e os lábios, com tais sinais de vida que pareciam chamar o escrivão e dizer-lhe coisas de outro tempo.
— O último! Quinhentos contos! bradavam os meninos, quando ele ia a entrar no cartório. Quinhentos contos! O último!
Estas vozes entraram com ele e repetiram-se várias vezes durante o dia, ou da boca de outros vendedores ou dos ouvidos dele mesmo. Quando voltou para casa, passou novamente pela igreja mas não entrou; um diabo ou o que quer que era desviou o gesto que ele começou a fazer.
Não foi menos inquieto o dia 23. Coimbra lembrou-se de passar pela escola de S. Bernardo; já não era na casa antiga; estava em outra, uma boa casa assobradada, de sete janelas, portão de ferro ao lado e jardim. Como é que ele fora um dos primeiros autores de obra tão conspícua? Passou duas vezes por ela, chegou a querer entrar, mas não saberia que dissesse ao diretor e temeu o riso dos meninos. Foi para o cartório e, de caminho, mil recordações lhe restituíam o tempo em que aprendia a ler. Que ele também andou na escola, e evitou muita palmatoada com promessas de orações a santos. Um dia, em casa, ameaçado de apanhar por haver tirado ao pai um doce, aliás indigesto, prometeu uma vela de cera a Nossa Senhora. A mãe pediu por ele, e alcançou perdoá-lo; ele pediu à mãe o preço da vela e