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com uma troupe de funambulos ambulantes, e ella-misera menina-só e completamente só...

O orgulho admiravel desua raça lhe transvasava do bello rosto amorenado e pensativo: e Tanira resistia ao brilho fementido e satanico do pão comprado pela deshonra!

D'ahi começou o seu intermino e cruel penar. resumido no abandono e na desolação.

E soffria, muitissimo soffria...

Quantos não a viam vagar sempre e sempre, pousando aqui e acolá, qual a pequena ave que trina, em soluços, um poema de dôr, pela morte dos filhotinhos envolvidos, no ninho desabrigado, pela neve assassina? !...

No seu caminhar de creança-desolada peregrina sem rumo-se desafogava, modulando os cantos syllabicos de uma elegia apaixonada, que recordava pelos accentos voluptuosos do seu adorado idioma, as blandicias repassadas de melancholia d'algum majo embriagado de amor, que, ás harmonias lacrimosas do alaúde, dirigisse supplicas á bohemia seductora, enlanguescida...

O tempo fazia o seu effeito em Tanira: durante as longas e penosas caminhadas, ia ella tomando aquelle porte magico, inexprimivel e captivante das encanta-