querem de mim e o que estou fazendo nesta casa?


— Vai sabê-lo, respondeu tranqüilamente o velho.


A porta abriu-se e apareceu o homem magro com a chinela na mão. Duarte, convidado a aproximar-se da luz, teve ocasião de verificar que a pequenez era realmente miraculosa. A chinela era de marroquim finíssimo; no assento do pé, estufado e forrado de seda cor azul, rutilavam duas letras bordadas a ouro.


— Chinela de criança, não lhe parece? disse o velho.


— Suponho que sim.


— Pois supõe mal; é chinela de moça.


— Será; nada tenho com isso.


— Perdão! tem muito, porque vai casar com a dona.


— Casar! exclamou Duarte.


— Nada menos. João Rufino, vá buscar a dona da chinela.


Saiu o homem magro, e voltou logo depois. Assomando à porta, levantou o reposteiro e deu entrada a uma mulher, que caminhou para o centro da sala. Não era mulher, era uma sílfide, uma visão de poeta, uma criatura divina. Era loura; tinha os olhos azuis, como os de Cecília, extáticos, uns