passivas, e retomou o seu lugar. D. Benedita entrou a virar e revirar a chinela, e a passá-la de uma para outra mão, a princípio com amor, logo depois maquinalmente, até que as mãos pararam de todo, a chinela caiu no regaço, e D. Benedita ficou a olhar para o ar, parada, fixa. Nisto o relógio da sala de jantar começou a bater horas. D. Benedita, logo às primeiras duas, estremeceu:

- Jesus! Dez horas!

E, rápida, calçou a chinela, concertou depressa o punho do roupão, e dirigiu-se à escrivaninha, para começar a carta. Escreveu, com efeito, a data, e um: - "Meu ingrato marido"; enfim, mal traçara estas linhas: - "Você lembrou-se ontem de mim? Eu...", quando Eulália lhe bateu à porta, bradando:

- Mamãe, mamãe, são horas de almoçar.

D. Benedita abriu a porta, Eulália beijou-lhe a mão, depois levantou as suas ao céu:

- Meu Deus! que dorminhoca!

- O almoço está pronto?

- Há que séculos!

- Mas eu tinha dito que hoje o almoço era mais tarde... Estava escrevendo a teu pai.

Olhou alguns instantes para a filha, como desejosa de lhe dizer alguma coisa grave, ao menos difícil,