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CANTO I
3

Dos poetas então, Deus nos defenda!
Estes vão procurar por amor d'arte
Outra metade d'alma que os comprenda,
E procuram em vão por toda a parte...
Podem ser immortaes cá neste mundo,
Que não hão de encontrar quem os entenda!


Se uma lagrima pois—impio desejo,
Que nos impelle a vel-a desprendida,
Para a seccarmos num fervente beijo!—
Por nossa causa, trémula e sentida
Brilha nos olhos da mulher amada,
Que ineffavel prazer temos na vida!


O egoismo, feição predominante
D'estes santos varões a que eu pertenço,
E tu, leitor, tambem, a cada instante
Apparece brutal, feroz, intenso!
Não se pode conter, resfolga sempre,
Até no meio d'um amor immenso!