possesso, dando pulos, esfaqueando sombras que fugiam.

Foi dar na sala de jantar onde, pelo rasgão do telhado, pareciam descer umas fórmas longas, esvoaçando, e uns vultos alvos, em que por vezes pastavam chammas rapidas, dançavam-lhe diante dos olhos incendidos.

O arrieiro não pensava mais. A respiração se lhe tornára estertorosa; horriveis contracções musculares repuxavam-lhe o rosto e elle, investindo as sombras, uivava:

— Traiçoeiras! Eu queria carne para rasgar com este ferro! Eu queria osso para esmigalhar num murro!

As sombras fugiam, esfloravam as paredes em ascensão rapida, iluminando-lhe subitamente o rosto, brincando-lhe um momento nos cabellos arripiados, ou dançando-lhe na frente. Era como uma chusma de meninos endemoninhados a zombarem delle, puxando-o daqui, beliscando-o d'acolá, açulando-o como a um cão de rua.

O arrieiro dava saltos de tigre, arremetendo contra o inimigo nessa luta phantastica: rangia os dentes e parava depois, ganindo como a onça esfaimada a que se