A’ mesa do festim vem pois sentar te,
Sob uma corôa de virentes rosas
Vem esconder os prematuros sulcos,
Vestigios tristes de vigilias longas,
De austero meditar, que te ficárào
Na larga fronte impressos.
Dissipe-se aos sorrisos da belleza
Essa tristeza, que te abafa a mente.
Ama, ó poeta, e o mundo que a teus olhos
Um deserto parece arido e feio,
Sorrir-se-ha, qual horto de delicias:
Vive e canta os amores.
Mas se a dôr é partilha de tua alma,
Se concebeste tedio de teus dias
Volvidos no infortunio:
Que importa, ó vate; vê pura e donosa
Sorrir-se a tua estrella
No encantado horizonte do futuro.
Vive e soffre, que a dôr co’a vida passa,
Emquanto a gloria em seu fulgor perenne
No limiar do porvir teu nome aguarda
Para envial-o ás gerações vindouras.
E então mais bellos brilharáõ teus louros
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